sexta-feira, 28 de março de 2008

Jogo de xadrez

Não entendi a tua anotação do xadrez. P 2 CRb – qu´es-ce que c´est que ça? Peão na 2ª. Casa do Cavalo do Rei branco? Mas se a 2ª. do cavalo é a casa primitiva do peão! Que cavalo me estás saindo... Mas para não perder tempo, começo eu com as brancas: 1 – P – R4
(Carta a Rangel. São Paulo, 5.2.1909)

quinta-feira, 27 de março de 2008

depois de Areias, o mundo...

Monteiro Lobato não nasceu escritor. Nem Rangel. Os dois se escreveram, mutuamente. Como entender a gênese de seus respectivos contos (de Lobato) e romances (de Rangel) se não os acompanharmos na viagem com a "barca"?
(...) "estamos como içás que derrubam as asas e afundam no buraquinho" (...)
Lobato vai sair de Areias, um dia. E Rangel, ah, como um fiel servidor, continuará de guarda, a postos desde seu buraquinho:
(...) Nossas cartas são como o rabinho de rato que Hansel mostrava para a velha feiticeira. Somos a velha feiticeira um do outro. Você estira o rabinho de rato epistolar para que eu veja como está gordo e forte no estilo; eu faço o mesmo. Mas que assuntos, que temas, podem existir dentro de caixas? (Carta a Rangel in A barca de Gleyre, 1961, p. 220)
Lobato.
Areias, 1908 possivelmente entre setembro e outubro

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Himno del Minarete

Dé brin o dé bran

Cabussaran
Dou fenestron
De Tarascon
Dedins lou Rose
"Té, Bezuquet!" "Vé, Tartarin!"
Y así se saludaban, felices, irresponsables, olvidados del mundo fuera del Minarete, lugar imaginado para vivir el sueño de un tiempo que jamás volvería. Tiempos de la universidad, de las noches insomnes, de las tertulias , ah cronotopía indeleble, marcada a "fierro" y fuego en el alma de aquellos jóvenes: Ricardo Gonçalves, el poeta que tan temprano se fue (porque quiso irse...), Cândido Negreiros, el aristócrata del grupo, Tito Livio Brasil, Albino Camargo, el filósofo eternamente duvidador, Raul de Freitas, Lino Moreira, el Desmoulins, orador apoplético y fulminante... Y los más fieles de todos, los últimos a abandonar el cenáculo: Godofredo de Moura Rangel y José Bento Monteiro Lobato.

Ilusões Perdidas

A Barca de Gleyre es el título del conjunto de cartas enviadas por Monteiro Lobato a su amigo Godofredo Rangel por más de cuarenta años (desde 1903 a 1948):

“Estas cartas se salvaram das que escrevi a Godofredo Rangel no dilatado espaço de quarenta anos. Quarenta anos do mesmo amigo e mesmo assunto, que fidelidade... E a conseqüência foi se tornarem uma raríssima “curiosidade”. Não sei em nenhuma literatura de tão longa correspondência, sobre o mesmo assunto, entre só dois sujeitos.
(...) Carta é conversa com um amigo, é um duo – e é nos duos que está o mínimo de mentira humana.(...)”.

El título deriva de una carta que Lobato le envió a Rangel, con la fecha de 15/11/1904:
“Nunca vistes a reprodução de um quadro de Gleyre, Ilusões Perdidas? Num cais melancólico barcos saem. E um barco chega, trazendo á proa um velho com o braço pendido largadamente sobre uma lira – uma figura que a gente vê e nunca esquece. (...) Em que estado voltaremos, Rangel, desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de esperanças novas e arrogâncias, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões. Que lhes acontecerá?”.

Curiosamente la carta, escrita por el joven Lobato, suena a un epitafio, con el mismo tono de despedida de la última carta que le escribió, poco antes de su muerte:

Véspera de S.João, 1948
Rangel:

Chegou afinal o dia de te escrever, e vai a lápis, porque a pena me sai mal. Ainda estou com uma perturbação na vista. Uma perturbação que se vai deslocando do meu campo visual, e que num mês deve estar desaparecida. Só então voltarei a ler correntemente. Tenho estado, todo este tempo, privado de leitura – e que falta me faz! A civilização me fez um “animal que lê”, como o porco é um animal que come – e dois meses já sem leitura me vem deixando estranhamente faminto. Imagine Rabicó sem cascas de abobora por 30 dias!
Tive a 21 de abril um “espasmo vascular”, perturbação no cérebro da qual a gente sai seriemente lesado de uma ou outra maneira. Depois de 3 horas de inconsciencia voltei a mim, mas lesado.
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Adeus, Rangel! Nossa viagem a dois está chegando perto do fim. Continuaremos no Além? Tenho planos logo que lá chegar, de contratar o Chico Xavier para psicógrafo particular, só meu – e a 1ª. Comunicação vai ser dirigida justamente a você. Quero remover todas as tuas dúvidas.
DO Lobato

Nota: Cuando las cartas salieron a la luz en formato de libro, El mismo Lobato hizo una corrección sobre su interpretación al cuadro de Charles Gleyre (Le Soir)

“Há um erro aqui. Esse quadro de Charles Gleyre que entrou para o museu Luxemburgo e de lá se passou para o Louvre, sempre foi vítima de traições. (...) Eu também mexi no quadro. Pus o velho dentro da barca e fiz a barca vir entrando no porto, toda surrada. Traí o pobre Gleyre. Sua barca não vai entrando, vai saindo, como se deduz da direção do enfunamento das velas...