segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Ilusões Perdidas

A Barca de Gleyre es el título del conjunto de cartas enviadas por Monteiro Lobato a su amigo Godofredo Rangel por más de cuarenta años (desde 1903 a 1948):

“Estas cartas se salvaram das que escrevi a Godofredo Rangel no dilatado espaço de quarenta anos. Quarenta anos do mesmo amigo e mesmo assunto, que fidelidade... E a conseqüência foi se tornarem uma raríssima “curiosidade”. Não sei em nenhuma literatura de tão longa correspondência, sobre o mesmo assunto, entre só dois sujeitos.
(...) Carta é conversa com um amigo, é um duo – e é nos duos que está o mínimo de mentira humana.(...)”.

El título deriva de una carta que Lobato le envió a Rangel, con la fecha de 15/11/1904:
“Nunca vistes a reprodução de um quadro de Gleyre, Ilusões Perdidas? Num cais melancólico barcos saem. E um barco chega, trazendo á proa um velho com o braço pendido largadamente sobre uma lira – uma figura que a gente vê e nunca esquece. (...) Em que estado voltaremos, Rangel, desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de esperanças novas e arrogâncias, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões. Que lhes acontecerá?”.

Curiosamente la carta, escrita por el joven Lobato, suena a un epitafio, con el mismo tono de despedida de la última carta que le escribió, poco antes de su muerte:

Véspera de S.João, 1948
Rangel:

Chegou afinal o dia de te escrever, e vai a lápis, porque a pena me sai mal. Ainda estou com uma perturbação na vista. Uma perturbação que se vai deslocando do meu campo visual, e que num mês deve estar desaparecida. Só então voltarei a ler correntemente. Tenho estado, todo este tempo, privado de leitura – e que falta me faz! A civilização me fez um “animal que lê”, como o porco é um animal que come – e dois meses já sem leitura me vem deixando estranhamente faminto. Imagine Rabicó sem cascas de abobora por 30 dias!
Tive a 21 de abril um “espasmo vascular”, perturbação no cérebro da qual a gente sai seriemente lesado de uma ou outra maneira. Depois de 3 horas de inconsciencia voltei a mim, mas lesado.
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Adeus, Rangel! Nossa viagem a dois está chegando perto do fim. Continuaremos no Além? Tenho planos logo que lá chegar, de contratar o Chico Xavier para psicógrafo particular, só meu – e a 1ª. Comunicação vai ser dirigida justamente a você. Quero remover todas as tuas dúvidas.
DO Lobato

Nota: Cuando las cartas salieron a la luz en formato de libro, El mismo Lobato hizo una corrección sobre su interpretación al cuadro de Charles Gleyre (Le Soir)

“Há um erro aqui. Esse quadro de Charles Gleyre que entrou para o museu Luxemburgo e de lá se passou para o Louvre, sempre foi vítima de traições. (...) Eu também mexi no quadro. Pus o velho dentro da barca e fiz a barca vir entrando no porto, toda surrada. Traí o pobre Gleyre. Sua barca não vai entrando, vai saindo, como se deduz da direção do enfunamento das velas...

2 comentários:

Marisa Aderaldo disse...

O galo encontrou uma pérola. "Antes fosse um grão de milho", disse e passou. Você [Rangel] deu pérola ao galo. Eu dou milho. Eis a razão do meu sucesso. Mas eu dou milho, meu caro Rangel, por uma razão muito simples: incapacidade de dar pérolas....
Lobato
(carta fechada São Paulo, 30,6,1921)

Marisa Aderaldo disse...

(...) Uma coisa é preparar laudas e laudas para encher com recordações do passado, mesmo com a mais pura das intenções. Outra, muito outra, é chegar no fim de uma acidentada existência e receber de um amigo, com o qual nos carteamos durante quarenta e tantos anos, centenas e centenas de paginas, com os tipos de letras mais variáveis possíveis e os mais estranhos papeis, e verificarmos que essas cartas nada mais representam senão a nossa própria existência, pormenorisadamente contada. (...)
(...) Mas não há uma necessidade por assim dizer orgânica do encontro pessoal, da conversa verbal. Tanto que Lobato podia acentuar que o habito “de escrever-nos desdobrou-te em dois Rangeis: o de carne, professor, marido e lá sei que mais; e o Rangel espistolografo. Este é que é o meu. Deste é que conheço as idéias e as manhas.”
(PREFACIO DE EDGARD CAVALEHIRO IN A BARCA DE GLEYRE, LOBATO, 1961, P: 4 SS)